Cerca de 10 mil pessoas fizeram caminhada na Praia de Copacabana contra o PT e pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, três mil a menos do que na manifestação de março, segundo as estimativas da Polícia Militar. Os PMs precisaram intervir duas vezes para evitar confusões entre os manifestantes e defensores do governo petista.
Logo nos primeiros minutos, o protesto foi interrompido quando um senhor com bandeira vermelha foi rechaçado e teve que ser escoltado por policiais até uma viatura, sob gritos de ‘fora comunista’ e ‘ladrão’. O homem foi identificado por um dos organizadores que fez um discurso no carro de som pedindo a atuação da PM. “Atenção policiais, temos uma invasão comunista aqui”, disse um dos mestres de cerimônia ao microfone. Depois, a PM evitou que um homem de camisa vermelha fosse agredido quando passava pela ciclovia.
A divisão entre os grupos anti-Dilma ficou mais evidente: ‘Vem Para Rua’ e ‘Revoltados ON Line’ conseguiram levar mais gente do que o ‘Movimento Brasil Livre’, ainda que ambos tenham realizado o mesmo trajeto.
Além dos discursos anticorrupção e da denúncia de uma suposta “ditadura comunista” em curso, que seguiram dando a tônica do ato como no mês passado, o protesto de ontem teve novos alvos, sendo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Dias Toffoli o principal deles. Ele, que foi advogado do PT, deve substituir Teori Zavascki na 2ª turma do Supremo Tribunal Federal, e será responsável pelo julgamento dos inquéritos da Lava Jato.
“O STF não tem condição de julgar nada”, afirmou o médico Paulo Carvalho, de 60 anos, que levava um cartaz contra o ministro. Houve quem mirasse também nos presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos do PMDB. “Ele (Cunha) é homofóbico, tem que sair. Tenho filho e amigos gays”, disse Carmem Perez, de 66 anos.
Mais uma vez, defensores de uma intervenção militar e do retorno das Forças Armadas ao poder marcaram presença com cartazes em inglês. O nome do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela condução da Lava Jato na 1º instância da Justiça, foi ovacionado em diversos discursos.
CAMELÔS FATURAM
Diferente dos tratamentos que costumam receber nas manifestações, ontem, os policiais militares trabalharam sob aplausos do público. No alto do carro de som, os organizadores elogiaram os agentes e lançaram a campanha ‘dê uma água gelada ao PM’, que foi prontamente atendida pelos manifestantes. “Eles estão aqui para nos defender e, já que a corporação não os trata bem, nós cuidamos”, declarou a administradora Verônica Rocha, de 38 anos, que comprou 10 garrafas e distribuiu aos PMs.
Por todos os lados da manifestação, a presença de camelôs era intensa. Um deles, Leonardo Aguiar, 34, que se dizia policial, criou uma grife de camisas, a Manifeste, exclusivamente para comercialização nos protestos. Ontem, seu estoque era de 100 peças e cada uma custava R$ 20.
Não foi apenas no Rio que as manifestações contra o governo petista tiveram um número muito menor do que o previsto. Em outros 24 estados e no Distrito Federal, a mobilização também perdeu fôlego. A estimativa é que 670 mil pessoas tenham ido para as ruas em todo o país. Em março, foram dois milhões, segundo organizadores. Na Avenida Paulista, em São Paulo, onde, no último dia 15 a Polícia Militar contabilizou um milhão de pessoas, desta vez, a quantidade era de 275 mil, segundo a corporação. O Datafolha tem dados diferentes. Em março, o instituto afirmou que havia 210 mil manifestantes. Ontem, eles disseram que o ato reuniu 100 mil na Paulista. Na cidade, caminhoneiros passaram em comboio pela esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, fazendo buzinaço.
Em Brasília, aproximadamente 25 mil manifestantes foram à Esplanada dos Ministérios, de acordo com a polícia. O público é metade do que compareceu no mês passado. Os organizadores disseram, no entanto, que havia um público de 60 mil. Em Maceió, Alagoas, com gritos de “Acorda, Renan”, um grupo fez um apitaço em frente ao prédio onde mora o senador Renan Calheiros. Na cidade, 12 mil pessoas participaram dos atos.
Os protestos também se esvaziaram no exterior. Em Portugal, 40 pessoas se juntaram na Praça Camões com faixas e cartazes pedindo a saída da presidenta Dilma Rousseff. Em Miami, nos EUA, cerca de 600 brasileiros se reuniram vestidos de verde e amarelo e pediram a saída do PT do governo. Na Irlanda e na Alemanha, foram cerca de 40 manifestantes.
O presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves, divulgou nota em que diz que o partido “se solidariza com os milhares de brasileiros que voltaram às ruas e ocuparam as redes sociais”. Em outro trecho, ele afirma que “além da crise ética e moral, o governo do PT impõe à sociedade a pior equação: recessão com inflação alta, juros altos e corte de investimentos nas áreas essenciais da educação e saúde”.
Apoio a Dilma domina Twitter
Uma hashtag em defesa da presidenta Dilma Rousseff chegou a liderar o trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter no Brasil na tarde de ontem e a estar entre os mais postados do mundo. Às 15h, a hashtag#AceitaDilmaVez era o terceiro item da lista global de termos mais usados na rede social. Pela manhã, as manifestações não repercutiram com força e postagens sobre esporte dominavam o microblog. O Twitter oficial do PT pediu que os seguidores fizessem um “twittaço” e um “facebookaço”. Nas mensagens publicadas, os internautas criticam as manifestações contrárias à presidenta.
Celebridades que deram apoio aos protestos, nas redes sociais ou nas ruas, em março, tiveram uma participação mais tímida ontem. Durante o dia, Ronaldo postou foto, em seu perfil no Instagram, da família na piscina. Márcio Garcia ‘pediu desculpas’ aos internautas e disse que estava impossibilitado de comparecer aos protestos. Malvino Salvador, Roberta Miranda, Juca Chaves e Lobão foram alguns dos famosos que foram para as ruas.
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