3 de outubro de 2014

Novo estudo revela que aids surgiu no Congo, na década de 20

Pesquisadores das universidades de Oxford (Grã-Bretanha) e de Leuven (Bélgica), tentando reconstruir a "árvore genealógica" do vírus HIV, descobriram que o início da pandemia foi em Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, por volta de 1920. Eles chamaram a propagação do vírus, que já infectou cerca de 75 milhões de pessoas no mundo, de uma "tempestade perfeita”, provocada por conjunção de fatores, como o crescimento de Kinshasa e das demais cidades congolesas, o transporte ferroviário, o tráfico de trabalhadoras sexuais e o uso de seringas não esterilizadas. Leia a matéria de James Gallagher , da BBC Brasil, na íntegra


`Tempestade perfeita` permitiu surgimento de Aids, diz estudo


Uma conjunção de fatores, descrita como uma `tempestade perfeita`, permitiu que o vírus HIV se espalhasse a partir da cidade de Kinshasa, na atual República Democrática do Congo, nos anos 1920, e levasse a uma pandemia de Aids que infectou cerca de 75 milhões de pessoas no mundo, disse um estudo.
Cientistas de vários países concluíram que o crescimento rápido da população, o comércio sexual e o uso de seringas não-esterilizadas em clínicas provavelmente permitiram a disseminação do vírus HIV.

O HIV é uma versão mutante de um vírus de chimpanzé, conhecido como vírus da imunodeficiência símia, que provavelmente infectado humanos através do contato com sangue infectado durante o manuseio de carnes de caça.

Linhas de trem construídas pela Bélgica e usadas por milhares de pessoas também teriam contribuído para que a doença se espalhasse para países vizinhos.
Pesquisadores das universidades de Oxford, na Grã-Bretanha, e de Leuven, na Bélgica, usaram amostras arquivadas do código genético do HIV para traçar sua origem. Eles tentaram reconstruir a "árvore genealógica" do vírus e descobriram de onde vieram os ancestrais mais antigos.

O HIV conquistou atenção global nos anos 1980 mas tem uma longa história na África. O local onde a pandemia teve início, no entanto, ainda é alvo de debate.
O estudo foi divulgado na publicação científica "Science".

"Você pode ver as pegadas da história nos genomas de hoje, há um registro, uma marca de mutação no genoma do HIV que não desaparece," disse à BBC o professor Oliver Pybus, da Universidade de Oxford.

Nos anos 1920, Kinshasa - cujo nome foi Leopoldville até 1966 - fazia parte do Congo Belga. Grandes quantidades de trabalhadores homens foram atraídos para a cidade, distorcendo o equilíbrio entre os sexos - chegou-se a ter dois homens para cada mulher -, o que levou a um intenso comércio sexual.
lmente transmissíveis", disse Pybus.

"Há dois aspectos da infraestrutura que poderiam ter ajudado as campanhas de saúde pública para tratar pessoas por várias doenças infectocontagiosas. As injeções parecem ter sido uma rota plausível (para a disseminação do vírus). O segundo aspecto muito interessante é a rede de transportes, que permitiu que as pessoas se movimentassem em um grande país."

Cerca de um milhão de pessoas usavam o sistema ferroviário de Kinshasa no final dos anos 1940. O vírus se espalhou e as províncias vizinhas de Brazzaville e Katanga foram rapidamente afetadas. Estas condições "perfeitas" duraram por algumas décadas em Kinshasa mas, quando elas deixaram de existir, o vírus já começava a se espalhar pelo mundo.

Para Andrew Freedman, professor-assistente de doenças infecciosas na Universidade de Cardiff, o estudo é interessante, pois demonstra elegantemente como o HIV se espalhou na região do Congo antes da epidemia de Aids ser reconhecida no início dos anos 80." Já se sabia que o HIV em humanos surgiu através da transmissão entre espécies de chimpanzés na região da África, mas este estudo mapeia em grande detalhes a propagação do vírus a partir de Kinshasa", disse ele.

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